–
Cem.
– O quê?!
– Tu ouviu.
– Mas eu só quero um instantinho!
– É
o preço do instantinho.
– Hã?!
– É pagar ou largar.
– Você tá brincando...
– Não tô. É o meu preço e pronto.
– Mas com essa crise toda?!
– Que crise?
– Em que mundo você vive, mocinha?
–
No mundo da rua. E não me chame de mocinha; detesto.
– Não será no mundo da lua?
– Hem?
– Deixa pra lá.
– Tá bom, tá bom. Oitenta, vai.
– Não tenho essa grana toda.
– Tem quanto aí?
– Vinte.
– Só isso?!
– Ali em baixo é só quinze; acabei de
perguntar.
– Lá em baixo não é aqui.
– Aí, quer saber? Vou embora.
– Pode ir.
– Nunca mais apareço aqui.
– Tá.
–
Não volto nunca mais mesmo!
– Sei.
– Lá embaixo até posso ir... Aqui, não!
– Já sabia.
– Adeus!
– Tchau.
O homem, decidido e furioso, acelera os
passos pela calçada.
Da esquina, ele se volta e grita para a
moça:
– Aí, vou te falar uma coisa!
– Fala!
–
Você é o cão de linda!
A
moça balança a cabeça, enquanto tira o estojo de maquiagem da bolsa.
–
O cão de linda, viu?
O
homem repete, choroso. E desaparece de vez na esquina escura.