terça-feira, 19 de janeiro de 2016

UM PASSEIO


 “É... As coisas não são tão simples quanto parecem ser!”

A frase foi dita de repente pelo namorado à namorada, e ela ficou sem entender patavinas mas achou melhor não perguntar nada.

Os dois estavam no topo da serra, no sítio do pai dele. Tinham chegado naquele sábado pela manhã, com a promessa de um fim de semana tranquilo longe da agitação da cidade. Depois do almoço, o casal saíra em passeio por estradinhas no meio do mato. Caminhavam de mãos dadas; falavam pouco, absortos com o canto dos pássaros, o friozinho gostoso e o verde deslumbrante.

Caminharam por quase uma hora, até pararem para descansar. O lugar escolhido por ele era ao mesmo tempo insólito e encantador. Ali, sentaram-se sobre umas pedras pretas, à beira de um precipício.

Foi aí que, rompendo o silêncio que se instaurara após os “ahs” e os “ohs” dela diante da beleza inóspita do lugar, ele disse:

“É... As coisas não são tão simples quanto parecem ser!”

E depois de um instante:

“Às vezes, o mundo é tão... tão...”

A moça esperou que ele continuasse.

Mas o rapaz não falou mais nada. Nem ali, nem depois, quando retornaram à casa dos velhinhos, pelos mesmos caminhos serpenteantes.

À noite, após o jantar – que transcorrera com os pais de Augusto gargalhando e tagarelando o tempo todo, contentes que estavam com a visita do filho e da futura nora – namorado e namorada se dirigiram ao quartinho reservado para eles, nos fundos da habitação, e ficaram deitados no escuro e em silêncio...

 E foi lá que, perto do amanhecer – ambos insones! –, o rapaz finamente se explicou, deixando a moça arrasada, a ponto de desejar voltar lá naquele abismo aonde tinham ido, se atirar lá de cima daquelas pedras pretas, e se esborrachar toda no chão.

“Desculpe, Mariluce, não dá mais. Estou apaixonado por outra...”