quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O SAPO QUE ENGOLIA ESTRELAS


Era uma vez um sapo. Seu nome era Astrogildo.
Astrogildo, como tantos outros sapos, nasceu na beira do rio.
E viveu muito tempo por lá.
Até o dia em que, do nada, resolveu visitar a cidade grande...
Seus pais disseram que era melhor não: era arriscado, perigoso.
Astrogildo apenas sorriu.
E, numa bela manhã ensolarada, pôs uma trouxinha nas costas e o pé na estrada...

Ao chegar à cidade, algo estranho aconteceu...
Astrogildo já não era sapo.
Também não era homem.
Era uma mistura engraçada dos dois – só mesmo vendo para crer!

Entre tantos lugares legais para ir, Astrogildo escolheu ir numa casa lotérica.
Queria apostar na Super-Moeda, o prêmio milionário.
Então enfiou a mão bolso da calça e acabou encontrando uma nota amassada.
Com ela, pagou o jogo, e guardou o bilhete como um pequeno troféu.
Aí saiu caminhando pela cidade.
Andou até se cansar. Depois foi dormir num banco qualquer da praça.

De manhã, Astrogildo correu para a casa lotérica.
Conferiu os números do sorteio... e não deu outra.
O prêmio era dele. Só dele! Todinho dele!

Curiosamente, Astrogildo tinha virado sapo outra vez...

Com o dinheirão, Astrogildo mandou levantar um palácio luxuosíssimo, bem na área nobre da cidade...
A primeira coisa que ele disse para os construtores foi:
– Quero que tenha uma torre tão alta, que encoste nas estrelas!

E assim foi feito!

Castelo pronto, Astrogildo mudou-se definitivamente para lá.
Nem ao menos foi se despedir da sua família...
Nem dos seus antigos amigos lá do brejo.
O rio onde ele havia nascido agora era coisa do passado.
Uma nova vida só estava começando.
Era assim que Astrogildo pensava, com um sorriso que mal cabia na boca...

Durante o dia, Astrogildo ficava de olho nos empregados.
Dava ordens e mais ordens a homens, mulheres – e até crianças!
Enchia a paciência de todos com sua arrogância, com suas vontades absurdas:
– Faça isso!
– Faça aquilo!
– Assim não está bom!
– Faça de novo!

Mas, quando a noite caía, Astrogildo colocava roupas maravilhosas, banhava-se de perfume e ia todo contente para o alto da torre.
O elevador era chiquérrimo, cheio de espelhos.
Levava pouquíssimos segundos para conduzir Astrogildo às alturas!

Lá em cima, Astrogildo matava o tempo olhando as estrelas...
Às vezes, tocava violão. E cantava musiquinhas da moda.
Cantava muito mal, por sinal. Mas se sentia um verdadeiro pop star!

Pois foi assim, entre uma canção e outra, que, certa noite, Astrogildo teve a tal idéia...
Esticando sua língua enorme, agarrou e engoliu uma estrelinha...
Justamente aquela que sempre se emocionava ao vê-lo cantar!

Dali em diante, Astrogildo largou o violão de mão.
Ficava só engolindo estrelas, para desespero das coitadinhas...

Ao final de certo período, viam-se bem menos estrelas no céu.
E o passatempo de Astrogildo prosseguiu, noite após noite...
Nada impedia aquela língua esfomeada!

Como se pode imaginar, a barriga de Astrogildo cresceu demais...
Cresceu de forma assustadora!
Devido aos quilões adquiridos, Astrogildo tomou uma atitude: mandou alargar e reforçar a estrutura da torre. Investiu pesado no elevador.
O bicho não era bobo nem nada.
Queria segurança e comodidade nas suas constantes subidas e descidas...

Dias, meses se passaram...
E Astrogildo sempre comendo estrelas!

O céu, agora, era de uma tristeza que só vendo...
Os moradores da cidade ficavam lamentando o que tinha acontecido.
Ninguém, entretanto, tinha coragem de falar nada contra o sapo...
Afinal de contas, Astrogildo era malvado e muito, muitíssimo poderoso!
As pessoas só falavam às escondidas:
– Qualquer hora dessas ele vai acabar com as estrelas!
– Pois é... E é bem capaz de comer a Lua também!
E todos sofriam juntos sem saber o que fazer diante daquela situação.

Certa noite, como sempre, Astrogildo foi para o topo da torre.
Sua barriga doía, e como doía!
Ele pôs a culpa no cozinheiro; naquela sopa de vaga-lumes do jantar...
Então, para se distrair um pouco, pegou seu violão.
Começou a tocar e a cantar.
Vez por outra interrompia o seu show e engolia uma estrelinha.
Ficou nessa folia até tarde.
Até perceber, irritado, que restava apenas uma estrela no céu...

Astrogildo largou o violão. Sua voz calou-se.
Concentrou toda a sua atenção na estrelinha, que tremia apavorada...
A sua dor de barriga aumentara terrivelmente.
Astrogildo pensou em descer da torre e pedir um remédio ao seu criado-médico.
Mas desistiu, dizendo:
– Não! Agora tenho um importante trabalho para terminar!

Então, desenrolou sua língua gigantesca. E agarrou a última estrela...

Foi o tempo de engolir a estrelinha... e ouviu-se um estrondo espetacular!
Nos bares, nas praças, nas ruas, nas casas – tudo estremeceu!
A população inteira da cidade pensou no fim do mundo...
Mas, passado o susto, verificou-se que as coisas continuavam como antes...
Menos o céu... que estava novamente repleto de estrelas!

As pessoas, confusas, se perguntavam:
– Ué, o que aconteceu? Será que o sapo vomitou tudo, foi isso?!

Na cidade ou no palácio, ninguém ainda sabia da verdade...
E a verdade era uma só:
O barrigão de Astrogildo, cheia até o limite, havia explodido!
Explodiu assim que ele engoliu a estrela derradeira...

Astrogildo nem ao menos teve tempo de se lembrar da sua vidinha de antigamente, lá na beira do rio... Virou poeira no ar!
Coitado, né? Ele agira à toa, sem pensar no que de ruim poderia lhe acontecer...

Minutos depois do acontecido, a cidade inteira estava que era uma festa só!
As pessoas, aos montes, cantavam e dançavam pelas ruas...
Elas lamentavam pelo triste destino do sapo, mas estavam alegres porque tudo voltara a ser como antes.
E toda a gente batia palmas, saudando as estrelas, que, feito princesas, iam desfilando pelo céu afora...
Princesinhas tão faceiras, estrelinhas tão verdadeiras!
Felizes como nunca!
Enchendo de brilho e de beleza a grande noite sobre o mundo!...