A cigana insistiu tanto, que ele acabou
concordando.
“Quanto é?”,
perguntou.
“50 reais.”
“Tudo isso?!”
“...”
Ela leu a mão e, na
maior frieza, disse que ele morreria dentro de dois anos.
Disse também que,
se ele estivesse disposto a pagar 300, ela poderia mudar o seu destino.
“Então, você é
Deus?”, ele zombou, estendendo os 50 paus.
Muito séria, a
cigana pegou o dinheiro e, num giro rápido, saiu mancando pela calçada...
O vestido colorido
e as bijuterias tremulavam sob o sol escaldante do meio-dia.
Chegando em casa,
contou para a esposa do presságio da cigana.
A mulher dramatizou:
“Oh, meu Deus! Quer
dizer que eu vou ficar viúva, é...?”
Os dois sorriram, se
beijaram com paixão, e a cigana foi completamente esquecida...
Meses depois, o
casal se mudou para outra cidade.
Ali construíram
nova vida, eram felizes.
Uma noite, a esposa
passou mal; levada às pressas para o hospital, acabou falecendo.
Ele passou dias
terríveis, chegou a pensar em suicídio.
Mas o tempo passou,
ele foi aos poucos se reerguendo.
O telefonema chegou
no meio da madrugada:
“300 reais e tudo
se resolverá...”, sussurrou uma voz e desligou.
Ele lembrou logo da
cigana; e não conseguiu mais dormir, confuso e impotente...
De manhã, não foi para
o trabalho, levantou da cama só lá pelo começo da tarde.
A ideia do suicídio
voltou com força total...
Então ligou para um
conhecido e comprou o revólver que ele havia lhe oferecido, dias atrás.
“Vou pegar o bicho daqui
a pouco, levo a grana...”, disse ele, tentando manter a calma.
A casa do cara era
perto dali, ele foi mesmo a pé.
Na volta, resolveu
dar uma volta pela cidade.
O sol estava de
rachar, ele aproveitou para entrar numa igreja – coisa que não fazia desde o
seu casamento.
Lá dentro, diante
do altar de Nosso Senhor, pensou na esposa falecida e chorou feito uma
criança...
Saiu dali aliviado,
disposto a dar um fim naquela arma idiota, e tocar a vida para a frente.
Ao dobrar uma
esquina, o susto!
“300 reais!”, era a
cigana, com um sorrisinho malévolo.
Cego de ódio e
medo, ele nem pensou: puxou o revólver da cintura e atirou uma, duas, três
vezes...
Coincidência ou não,
naquele dia estava fazendo exatamente dois anos desde o primeiro encontro dos
dois...
João não se deu
conta disso, antes de trazer a arma ainda fumegante para o próprio ouvido.
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