quinta-feira, 31 de maio de 2012

COM A MORTE NAS MÃOS




A cigana insistiu tanto, que ele acabou concordando.
“Quanto é?”, perguntou.
“50 reais.”
“Tudo isso?!”
“...”


Ela leu a mão e, na maior frieza, disse que ele morreria dentro de dois anos.
Disse também que, se ele estivesse disposto a pagar 300, ela poderia mudar o seu destino.
“Então, você é Deus?”, ele zombou, estendendo os 50 paus.
Muito séria, a cigana pegou o dinheiro e, num giro rápido, saiu mancando pela calçada...
O vestido colorido e as bijuterias tremulavam sob o sol escaldante do meio-dia.


Chegando em casa, contou para a esposa do presságio da cigana.
A mulher dramatizou:
“Oh, meu Deus! Quer dizer que eu vou ficar viúva, é...?”
Os dois sorriram, se beijaram com paixão, e a cigana foi completamente esquecida...


Meses depois, o casal se mudou para outra cidade.
Ali construíram nova vida, eram felizes.
Uma noite, a esposa passou mal; levada às pressas para o hospital, acabou falecendo.
Ele passou dias terríveis, chegou a pensar em suicídio.
Mas o tempo passou, ele foi aos poucos se reerguendo.


O telefonema chegou no meio da madrugada:
“300 reais e tudo se resolverá...”, sussurrou uma voz e desligou.
Ele lembrou logo da cigana; e não conseguiu mais dormir, confuso e impotente...


De manhã, não foi para o trabalho, levantou da cama só lá pelo começo da tarde.
A ideia do suicídio voltou com força total...
Então ligou para um conhecido e comprou o revólver que ele havia lhe oferecido, dias atrás.
“Vou pegar o bicho daqui a pouco, levo a grana...”, disse ele, tentando manter a calma.


A casa do cara era perto dali, ele foi mesmo a pé.
Na volta, resolveu dar uma volta pela cidade.
O sol estava de rachar, ele aproveitou para entrar numa igreja – coisa que não fazia desde o seu casamento.
Lá dentro, diante do altar de Nosso Senhor, pensou na esposa falecida e chorou feito uma criança...
Saiu dali aliviado, disposto a dar um fim naquela arma idiota, e tocar a vida para a frente.


Ao dobrar uma esquina, o susto!
“300 reais!”, era a cigana, com um sorrisinho malévolo.
Cego de ódio e medo, ele nem pensou: puxou o revólver da cintura e atirou uma, duas, três vezes...


Coincidência ou não, naquele dia estava fazendo exatamente dois anos desde o primeiro encontro dos dois...
João não se deu conta disso, antes de trazer a arma ainda fumegante para o próprio ouvido.


domingo, 27 de maio de 2012

Também já participei das seguintes edições da Revista "Varal do Brasil", uma revista eletrônica maravilhosa, editada na Suíça

Nº 13 / Janeiro-2012
(Estou nas páginas 68-69)


Nº 14 / Março-2012
(Estou na página 36)


Nº 15 / Maio-Junho-2012
(Estou na página 71)


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