sexta-feira, 3 de junho de 2011

RIO NOTURNO

             
                Sobe no parapeito da ponte, tentado a pular nas águas turvas do rio.
                – Ei, você aí!
                Do susto, Tonho quase perde o equilíbrio e cai de vez...
               O intruso era um ruivinho de óculos, livro debaixo do braço:
                – Vai pular mesmo?
                – Por quê? Você vai me impedir?
                – De jeito nenhum! Quero é pular com você...
                – O quê?
                – Faz tempo que eu queria pular, sabe?
                – Não já pulou por quê?
   – Faltou coragem de pular sozinho... Aí eu estava na praça lendo esse livro de poesias, vi você passando pra esse lado e pensei: “Esse cara está indo pular da ponte.” Então vim correndo atrás de você. Posso subir aí?
                – Vai embora, não me enche saco!
                – Por favor, amigo, me deixe pular com você!
                – Não sou seu amigo. E saia logo daqui enquanto não te quebro a cara de porrada!
                – Calma, calminha, eu já vou embora... Mas antes me fala uma coisa, pode ser?
    – Que coisa?
                – Por que você quer morrer?
                – Não é da sua conta!
                – OK, ok, desculpe a intromissão... Vou embora. Tchau!
                – Espera!
                – O quê?
                – E você... por que está querendo morrer?
                – Sei lá! Desde pequeno sempre tive a vontade de pular dessa ponte, uma noite... Você tinha essa vontade também?
                – Não, é que ando meio chateado com umas coisas, entende?
                – Sei como é... E aí, vai me deixar pular com você?
                – Você quer mesmo?
                – Ora se quero!
                Sorrindo, Tonho desce do parapeito.
    O ruivinho se desespera:
                – O que foi? Não me diga que desistiu!
                – Desisti...
                – Só porque eu ia pular com você?
                – Não é isso, não... Eu não quero morrer, acho que só me precipitei um pouco...
                – E agora?
                – Agora, se você quiser, vai ter que pular sozinho!
                – Ah, não! Sozinho de jeito nenhum!
                Sorrindo de novo, Tonho propõe tomarem uma cerveja num bar qualquer.
    – Ou uma cachaça, se você preferir...
                O outro, ligeiro, estende a mão:
                – Feito! Como você se chama?

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