terça-feira, 5 de abril de 2011

GUARDA-CHUVA II





Chego em casa às 9, debaixo duma bruta chuva. Mal entro, meu gato vem se esfregar nas minhas pernas, mas se afasta discretamente ao perceber que estou todo encharcado. O guarda-chuva que minha amiga me emprestara pouco havia adiantado...
Deixo o guarda-chuva na cozinha e vou pro quarto, me trocar; depois, abro a porta do quintal e jogo a roupa molhada dentro dum balde qualquer, ao lado do tanque. Lavarei pela manhã, antes de ir pro trabalho – se der tempo.
Meu gato reaparece. Ponho leite pra ele na tigelinha e esquento comida pra mim. Janto pensando na difícil prova de Matemática de amanhã. Foi por isso que passei duas horas na casa de Vera, estudando. Ela é craque com os números. E é minha melhor amiga também!
O guarda-chuva está ali mesmo, em pé num canto. Meu gato bebe o seu leitinho muitíssimo próximo a ele. Que está fechado, evidentemente. Se estivesse aberto, meu gato já estaria bem longe. Ele tem verdadeiro pavor de guarda-chuva preto aberto. Eu juro por Deus que não consigo entender de onde vem esse seu medo bobo...
Depois de jantar, vou ver televisão. Rico – é este o nome do meu bichano – pula logo no meu colo e fica ronronando.
A chuva finalmente passou. Vejo um pedaço de um programa sobre a vida selvagem na Amazônia e em seguida vou dormir, não sem antes ir à cozinha e abrir o guarda-chuva pra escorrer a água.
Meu gato havia me seguido e, ao ver o guarda-chuva abrindo, desaparece em fuga desesperada... Uma vez Vera me disse que Rico devia ter medo de morcego e, como guarda-chuva preto se parece com morcego, podia achar que fosse um morcegão.
Nada disso. Rico às vezes até brinca com os morcegos lá no quintal, no fim da tarde. Uma vez até capturou um deles que sem dúvida se afoitara num voo rasante , e o trouxe pra dentro de casa, o danado.
Me deito sorrindo ao lembrar do meu susto diante do episódio, mas de repente, ao me cobrir com o lençol, penso com profunda tristeza no guarda-chuva; não o que está aberto lá na cozinha, simples guarda-chuvinha inofensivo, mas o “outro” – de fato assustador! –, que talvez esteja começando a se abrir dentro de mim...




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