sábado, 6 de novembro de 2010

ESTRANHA PRESENÇA



É madrugada e ele está escrevendo o último capítulo do seu 13º romance, quando ela – pálida, de camisola e cabelos soltos – assoma à porta do pequeno escritório; silenciosamente, ela caminha até a poltrona em frente à escrivaninha do marido, senta-se e fica olhando ternamente para ele...
Ele finge ignorá-la no começo, mas a sua presença o perturba – e ele não consegue mais escrever.
“Saia daqui!”, diz ele encarando-a com os olhos chamejantes.
Ela sorri, apenas; depois murmura:
“Ah, João, eu te amo tanto!...”
Num ímpeto, ele levanta-se na intenção de pegá-la pelo braço e expulsá-la dali; mas desaba sobre a cadeira, acabrunhado: às vezes, se esquece de que a esposa está morta – pois não foi ele mesmo que a matou, um ano atrás, com dois tiros na cabeça?

Nenhum comentário: