quinta-feira, 22 de abril de 2010

EM OUTUBRO TAMBÉM TEM FADA

Aconteceu na época da estiagem – quando as cigarras cantavam enfurecidas; quando dezenas de urubus infestavam o céu reluzente; quando as pessoas, os animais e a natureza haviam ganhado aquela tonalidade esmaecida; e quando a vida outrora suportável se afigurava completamente impossível... Foi justo nessa época de poeira e privações que desabou o pé-dágua. Ao invés de alegres, os habitantes daquela pequena aldeia ficaram estarrecidos com aquilo. Afinal, onde já se vira chuva em outubro – bem no meio do verão! – e que dirá um toró brabo daqueles?!?
“É o fim do mundo!”, os mais velhos foram logo decretando.
“Que nada!”, saltitaram os mais novos. “É apenas um capricho da natureza, só isso!”
Escusado é dizer que os velhinhos nem aí para a garotada, tão convencidos estavam de que o mundo acabaria em breve, muitíssimo em breve; então, não era verdade que a chuva tinha durado exatos 33 minutos?!
Quem garantiu foi seu Adão, o barbeiro.
No que foi confirmado de imediato pelo dono da botica e pelo coveiro.
E a beata Zeferina aproveitou:
“33 minutos! Cristo morreu com 33 anos! É um aviso de que ele está voltando!”
A moçalhada achou melhor não criar caso, uma vez que ali as pessoas eram bastante religiosas e a gente (até demais!) que não se deve duvidar das coisas do céu – não é assim?
Bom, o tempo passou.
O mundo não acabou.
E aquela aldeiazinha distante, ao contrário do que se imaginava, não se transformou...
Os raros viajantes que por ali passavam ouviam a tal história da chuva de outubro com ceticismo. Um deles, olhando em derredor, chegou mesmo a dizer: “E aqui chove, neste deserto?” E, antes de sair, sacudiu o pó das sandálias – sinal de que, na próxima vez, pegaria outro caminho...
Fosse como fosse, ali jamais voltaria a chover em outubro. Nem uma gotinha sequer; nada!
Enquanto isso, mundo afora, os homens iam conquistando Marte e os outros planetas do nosso sistema solar.
E já não se fazia guerra.
E nenhuma pessoa passava fome, sede ou estresse.
E todos eram e seriam para sempre...
... Felizes: como naqueles antiquissimos contos de fada que, neste novo tempo, as criancinhas tratavam com desprezo!

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